Não sei o nome do meu
anjo, mas sei que ela existe. E é mulher. Pra mim é meio que espelho, nem feio
nem bonito, apenas podendo refletir tudo o que eu sou e do que me aproprio. Meu
anjo incansávelmente trabalha. Muito frequentemente me diz em palavras mais
angelicais que as minhas que “poderia ser pior”. É tão estranho estar na
cozinha batendo ovos para o omelete e escutar de repente meu anjo me dizendo
isso, palavras que chocam de frente com meus pensamentos – longe das chamas do
fogão. É um embate que chega a ser injusto, porque minha indecisão, tristeza,
dúvida, cansaço nunca tem chance de ganhar. Sentimento que fica estatelado ali
no peito, com cara de pouco, com cara de bobo, com cara de que não merece
atenção. Então eu sigo pensando em coisas melhores, lembrando de dias mais
lindos, lendo coisas que me elevam a consciência, vendo o mundo através. Mas o
mau agouro não me deixa um dia. E sempre vem bater ali, no mesmo lugar, fazendo
cansar, às vezes chorar, mas nunca preparado pra o que diz o meu anjo. Pra o
que nele faz de mim, um eu de músculos, carne, osso e pele, poderoso em si, sem
nem saber a quem deve a graça de ser feliz.
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Ilustração: Maya Shleifer
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Ilustração: Maya Shleifer