sábado, 17 de agosto de 2013

[SAMBA SEM SOM]

Estou escrevendo num caderno. Pautas distantes das extremidades, canetas coloridas, não tenho mais medo de rabiscar. Nem medo de mim há. Já estou naquela idade em que se perde um pouco da vergonha, em que é possível amar a si mesmo sem rodeios, cobranças ou recalques.

 Acordo cedo, ligo a tevê, ouço as notícias e penso no que escrever nesse caderno. Ando tão em dúvida sobre coisas básicas do meu ser. Com uma estranha saudade de quando eu lavava roupa na mão e pensava em milhões de coisas indizíveis, e aquele era momento de sagrada reflexão, de lembrar as melhores músicas de Gil, de chorar comigo mesmo cantando-as fora do tom. Quando o tempo não me era escasso e eu vivia daquele jeito que Maury disse que Clarice receberia sua carta, “sonhando em plena luz do dia”.

Agora sonhar envolve tantas coisas diferentes. Tantas coisas desse mundo. Queria que viver em paz ainda fosse sentar à mesa para comer com os seus. Viajar pra bem pertinho com as crianças, pic-nics na estrada, jogos de palavras do banco da frente pro banco de trás. Mas é esse mundo que me faz querer mais e me sentir mais pequeno. Tenho medo desse veneno, medo de voltar atrás em tudo que sei ser o que sou. De seguir adiante, mas sem rumo. Confusão eu não arrumo. Mas também não peço arrego. 

sábado, 10 de agosto de 2013

[DESCOBERTA]

Tanta coisa em mim
nasceu pra ser poema.
Essa saudade que eu tenho
dos anos sessenta que nem vivi
do meu avô preto que não conheci
do próximo destino onde vou ir.

Eu nem acredito de ver,
eu nem creio crescer
em mim a vontade de também ser versos
mas canto quando ninguém vê
no meu canto, enquadrada
querendo secretamente que os meus anseios ecoem
que a minha voz vá longe
junto com essa saudade

mas vá  e volte pra mim.