Silêncio no
mundo, palavras em mim. Soam ao pé do ouvido sem quem as diga. Vibram o
suficiente pra me levantar. As palavras me tem; no compasso delas me anuncio
nos feitos e nos não-feitos; naqueles que nesse dia precisam sair direitos,
direto da cabeça pras mãos, das mãos para o papel, do papel para o sentimento
de dever cumprido.
As palavras
que me soam de além, ou aquém, me dizem que estar inquieto é estar vivo. Acordo
e me movo. Nos livros, palavras não minhas, significadazinhas com a ajuda do
meu querer. No sofá, minha preguiça não autorizada. Na porta minha pressa, que
me bate sem que eu queira, me chamando de um lugar que é maior que eu, para o
dever. Na porta, ela presa, tesa no que ainda preciso fazer. Na cozinha, meu
apreço quente solta vapor sobre a mesa de canto. Me chama para uma exorcização
do sonho, um chacoalhado de cabeça, goles sem pensar, quase nada para ser.
Não há
muito o que narrar no silêncio que desbravo e furo com meus passos, meu sono,
minha congestão e minha confusão. Me parece hora propensa, suspensa, densa para
eu também calar em mim o que não merece quebrar este ou nenhum outro estado de
graça.