Montes de seres em silêncio abstraindo o mundo lá fora para
se concentrar em letras. Silêncio que acalma o ser. Silêncio que sequer sabe
que está posto. Regrado em papéis A4. Pendurado em colunas sustentadoras do
edifício. Aqui se vem para ser invisível; para se curvar ao texto com a
corcunda leveza de não ser visto. Aqui vários mundos coexistem. Mundos com
traças, mundos justapostos com códigos em etiquetas descolantes, mundos
ideologicamente conflitantes e os que arrastam os chinelos quando andam
errantes. Do meu mundo, nesse momento, só eu participo.
Leio sobre o século XVIII, e me imagino nele, mais perdido
que agora e condiciono minha volta à realidade para que não estar nela não me
afete tanto o juízo. Meu suspiro de retorno à superfície sequer se percebe.
Atuo num filme de cinema mudo, planos contínuos de câmera subjetiva. Mais
tarde, não sei quando, editarei as cenas merecedoras de memória. As sequências
virão sem resposta, mas também sem questões. Na mesa onde supostos pratos
limpos se põe, haverão livros. Vidas passadas impressas em letras pretas no
papel branco ou pardo. Café já não tão quente descendo amargo. Dúvidas que não
desgrudam do pensamento ou do palato. Para todos os fins, mais linhas. Para
todas as verdades só minhas, pratos.
Arte: Kristjan Dekleva
Arte: Kristjan Dekleva
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