quarta-feira, 13 de abril de 2016

[BIBLIOTECA]


Montes de seres em silêncio abstraindo o mundo lá fora para se concentrar em letras. Silêncio que acalma o ser. Silêncio que sequer sabe que está posto. Regrado em papéis A4. Pendurado em colunas sustentadoras do edifício. Aqui se vem para ser invisível; para se curvar ao texto com a corcunda leveza de não ser visto. Aqui vários mundos coexistem. Mundos com traças, mundos justapostos com códigos em etiquetas descolantes, mundos ideologicamente conflitantes e os que arrastam os chinelos quando andam errantes. Do meu mundo, nesse momento, só eu participo.


Leio sobre o século XVIII, e me imagino nele, mais perdido que agora e condiciono minha volta à realidade para que não estar nela não me afete tanto o juízo. Meu suspiro de retorno à superfície sequer se percebe. Atuo num filme de cinema mudo, planos contínuos de câmera subjetiva. Mais tarde, não sei quando, editarei as cenas merecedoras de memória. As sequências virão sem resposta, mas também sem questões. Na mesa onde supostos pratos limpos se põe, haverão livros. Vidas passadas impressas em letras pretas no papel branco ou pardo. Café já não tão quente descendo amargo. Dúvidas que não desgrudam do pensamento ou do palato. Para todos os fins, mais linhas. Para todas as verdades só minhas, pratos.


Arte: Kristjan Dekleva

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